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31 de outubro de 2004

Que desilusão!

O Ministério da Educação está a receber os Sindicatos com vista à revisão da legislação sobre colocações de professores nas escolas. Muito bem! O D.L. 35/2003 é, efectivamente, uma colectânea de asneiras, as quais ainda foram amplificadas pela respectiva regulamentação. A começar na “despromoção” dos professores mais antigos (efectivos) relativamente aos mais novos (qzp’s), passando pela aceitação praticamente automática de toda e qualquer declaração de debilidade para efeitos de destacamento (a que muitos Conselhos Executivos terão dado cobertura) e terminando nas colocações a nível nacional em horários incompletos, o decreto revelou-se, como se previa, um absoluto desastre. Por isso, reveja-se. Tudo bem.
Contudo, o dito decreto continha uma disposição de crucial importância para a necessária estabilização dos quadros das escolas – a possibilidade de recondução dos professores. Ora, como se pode ler aqui, essa forma legal de colocação vai ser abolida.
O que aconteceu, e que me entristeceu, foi o facto da Senhora Ministra, fragilizada pela irrepetível pantomina das colocações, ter cedido aos Sindicatos. Os quais rejubilam, proclamando que do encontro com o secretário de Estado Adjunto e da Administração Educativa, a FNE trouxe a promessa de que, no próximo ano, não haverá reconduções de docentes.

Senhora Ministra,

A senhora está nisto há pouco tempo, é verdade, mas, ainda assim, já deveria ter compreendido coisas básicas. Nomeadamente, deveria ter-se apercebido:

  • Que a “bronca” do concurso radica, quase exclusivamente, na subalternização dos docentes efectivos (que libertam vagas quando são deslocados) relativamente aos dos QZP’s;
  • Que esta hierarquização anacrónica terá sido exigência dos sindicatos;
  • Que assim procederão porque “recrutam” nos professores mais novos;
  • Porque os mais velhos, já estabilizados, tendem a deixar de pagar as quotas;
  • Pelo que, a estabilização dos quadros não lhes interessará!

Pois será! Mas a nós, que trabalhamos nas escolas e lutamos para que aumente a qualidade dos serviços que prestam à comunidade, interessa-nos! A nós, que percebemos que não há projecto educativo que resista à sucessiva alternância de professores, interessa-nos! A nós, que testemunhamos o desinvestimento que tantos professores fazem (felizmente há excepções) porque no ano seguinte estarão noutra escola, interessa-nos! A nós, que…
A nós, interessava-nos que as escolas (e nunca o Ministério) pudessem reconduzir os professores. Por mútuo acordo. Com parecer vinculativo do Conselho Pedagógico e/ou da Assembleia de Escola. Era simples. Era transparente. Era incorruptível. E, dentro de poucos anos, os quadros das escolas estariam estabilizados.

Esperava que um governo reformista tivesse a coragem de aguentar a “porrada” nos media e nas ruas.

Que desilusão!

5 comentários:

BlueShell disse...

O cavalheiro tem razão...mas isto dos estados de alma...uma pessoa não controla. E depois, um conto ...tem muito o que se lhe diga: é preciso "criar" personagens, dar-lhes "vida", verosimilhança; é necessário o enredo...e ter o cuidado de não cair em "clichés"!...no fundo...é preciso TEMPO (coisa que não tenho ultimamente) e, sobretudo, CRIATIVIDADE! Mas fica registada a sua sugestão e, desde já,o meu muito obrigada pela atenção. Um cavalheiro como há poucos, de facto.
Blue
Terei de ler o seu "post" com mais atenção para poder comentar devidamente...
O tempo urge e apesar de ser Domingo...estou atarefadíssima...perdoai!

João Campos disse...

Pois é, mais uma desilusão... este Governo anda a habituar-nos, não é? Não estou tão dentro deste assunto como gostava e como se calhar devia. Apenas sei que o sistema educativo português (tal como o sistema judicial, o sistema de saúde, etc, etc) está mergulhado numa imensa confusão... e não me parece que seja a fazer a vontade aos sindicatos que isso se vá resolver - a sua crítica, diga-se de passagem, está excelente. E que, no meio das trapalhadas que vão sendo sucessivamente feitas pelos Executivos, quem paga são os professores e os alunos, que culpa nenhuma têm. E claro que o filme já é nosso conhecido - vai uma aposta em como o próximo Governo vai fazer tábua rasa das reformas agora introduzidas e recomeçar a confusão toda outra vez..?

Agnelo Figueiredo disse...

Caro Martelo,
Esteja à vontade para dizer porra. Eu próprio o digo e bastas vezes. Porra!
Claro que o Código do Trabalho não é uma obra-prima. Mas representa, sem qualquer dúvida, um enorme avanço numa matéria de enorme sensibilidade como é o caso da legislação do trabalho. Repare que a anterior lei assentava em pressupostos da década de sessenta, hoje obsoletos. Estamos distantes daqueles paradigmas. Hoje não é possível afirmar "sou pedreiro (pintor, professor, arquitecto, etc.) e não preciso de aprender mais nada", ou aquela do "um trabalho para uma vida".
Naturalmente, percebe-se que o movimento sindical se manifeste contra.
Quanto a mim, penso que o problema foi não se ter avançado tanto como se deveria. Por exemplo, continua a estar plasmado em lei a velha máxima do "a trabalho igual, salário igual". Isto é, tanto faz ter este professor como aquele; tanto faz ser tratado por este médico como por aquele. Enfim, coisas aberrantes em que ninguém, intimamente, acredita.

Anónimo disse...

Azurara
Vamos ser objectivos .
COncordo com quase tudo o que escreves neste post. Já era tempo de colocares alguma coisa certa .:)
Mas lá continuas com a desculpabilização do governo.
Para se assinar um acordo existem duas partes não é verdade?
Uma o sindicato a outra a tia ministra.
Por isso esses acordos não são culpa unica dos sindicatos mas tam~bém do teu querido governo e partido em permanente campanha eleitoral.
Logoa não quer guerinhas e assina tudo com os sindicatos . Para eles ficarem caladinhos.
Quanto ao problema da colocação de professores tirando os apartes as questões estão lá quase todas. Pena é que o PSD não o perceba...
Seá para o ano que consegue colocar os professores . Duas sem três???????
mocho

Agnelo Figueiredo disse...

O meu texto é uma crítica clara à Ministra por ter cedido. O facilitismo transtorna-me.