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Lembro-me perfeitamente de ir a Fátima a pé ser um facto assinalável.
Pessoas, sobretudo mulheres, que face a uma adversidade de monta, prometiam à Virgem o sacrifício de ir a Fátima a pé caso as coisas corressem bem.
E era um feito.
Dizia-se: Fulano foi a Fátima a pé… foi promessa... coitado…
Hoje já não é assim. Vulgarizou-se.
Não sei se também é assim por outras terras, mas por aqui não cessa de crescer o número de peregrinos marianos. Gente dos mais diversos estratos sociais, económicos e culturais. Operários, administrativos, quadros, professores, dirigentes, empresários… cada vez é maior o número de pessoas que vão a Fátima a pé.
Mais ou menos por esta época, cedo na madrugada, ou tarde na noite, ei-los que iniciam a marcha que só há-de parar 12 ou mais horas depois, andados que foram 40 ou 50 quilómetros de bermas e valetas, para retomar no dia ou na semana seguinte, até que se alcance Fátima.
E, lá chegados, logo pensam no ano seguinte: para o ano voltamos!
Queira-se ou não, trata-se de um enorme sacrifício.
Desde logo físico; a maioria das pessoas não está hoje habituada a caminhar longas distâncias. Mas, mesmo pondo o físico de lado, basta pensar no tempo gasto; tanto tempo que poderia ser utilizado para fazer coisas mais úteis, mais produtivas e com muito mais gozo.
É por isso que não tenho dúvidas que se trata de um grande sacrifício. Disso não tenho. Nem tenho nada contra quem vai. Pelo contrário, mais que respeitá-los, admiro-os.
O que me intriga é o porquê?
O que fará mover estes peregrinos pedestres?
A Fé?
Haverá muitos, naturalmente, mas não me parece que se possa aplicar à maioria. Tenho vários amigos entre estes peregrinos recentes e nenhum deles é praticante; nem sequer da missa dominical participam. Ora, a crença, logo o culto mariano – não só em Fátima – é indissociável da Igreja com todos os seus dogmas, rituais e instituições, padres incluídos. É que só existe Virgem Maria dentro da Igreja. Assim, crer é acreditar e aceitar. Aceitar o todo!
O problema é que muitos dos que vão até são ateus ou agnósticos. E contudo…
Então, o que os faz ir?
Opine.