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14 de junho de 2005

Luto Nacional?


Decreta-se luto nacional aquando do passamento, ou do funeral, de alguém que prestou relevantes serviços ao país ou, eventualmente, à comunidade internacional.
Ora, tendo falecido Álvaro Cunhal, entendeu o Governo decretar um dia de luto nacional.
Porquê?
Terá Cunhal prestado algum serviço ao País?
Vou admitir que sim. Que o terá feito lutando contra o Salazarismo. Que terá desempenhado algum papel na luta pela democracia.
Uma coisa é certa: não desempenhou nenhum papel, nem sequer enquanto ideólogo, no golpe militar de 25 de Abril de 1974. Efectivamente, os militares, e isto hoje é história, só estavam preocupados com os "seus" problemas. A politização só veio depois. De resto, Cunhal estava exilado e só apareceu depois.
Mas acredito que sim. Que terá lutado, embora inconsequentemente, contra a ditadura. Acredito que sim, e que terá sido por isso que foi preso e deportado.
E devia ter ficado por aí! Se assim tivesse sido, justificava-se o luto. Mas não ficou. Continuou a lutar. Então, já não pela democracia, mas pela sovietização de Portugal. Cunhal foi o grande responsável pela destruição do nosso tecido produtivo. Cunhal destruiu Portugal! Não esteve só nessa tarefa, mas foi o maior responsável (e não este como, incorrectamente, referi). Se hoje somos a merda de país que somos, é a Cunhal que, em primeira instância, o devemos.
Todavia, vamos fazer luto! E porquê? Porque Álvaro Cunhal foi um homem "coerente", "inteligente", "tenaz", que "lutou por aquilo em que acreditava"? Ó meus senhores, a História da Humanidade está cheia de homens que cometeram terríveis atrocidades por acreditarem nos seus ideais. A História tem páginas cheias de nomes de homens que mataram outros homens (alguns, até milhões), para serem "coerentes" com os seus objectivos. O próprio Salazar, não tenho qualquer dúvida, também foi um homem "coerente, inteligente, tenaz, que lutou por aquilo em que acreditava". Foi, mas deu-lhe para a asneira.

A morte é uma coisa sempre triste. Todos temos a certeza de que morreremos, só não sabemos quando. Todavia, a morte não pode branquear aquilo que fizermos em vida!
Se houvesse lugar a luto nacional, deveria ter sido a 11 de Março de 1975!

10 comentários:

Anónimo disse...

tens o comunicado do ppd saído a 11/12 de março. seria bom que o lesses.Talvez corasses de vergonha.
Se somos a merda que dizes que somos devemo-lo fundamentalmente a quem mais anos esteve no poder. e sabes quem foi não sabes?
já se passaram 30 anos . Se estamos mal deve-se ao que foi feito a seguir e não a esse ano. Além do mais estamos muito melhores do que estavamos.
Acho que cunhal merece respeito apesar de tudo. Não vejo mal nenhum num dia de luto nacional que é um acto simbólico.
mocho

Agnelo Figueiredo disse...

Mocho,
Vai lá ao teu arquivo e envia-me o tal comunicado. Eu não o tenho. Tenho alguns documentos da época (já era militante deste junho de 74) mas esse não.
Agradeço "facsimile".
Azurara

Anónimo disse...

"Cunhal foi o grande responsável pela destruição do nosso tecido produtivo".

"a morte não pode branquear aquilo que fizermos em vida!"

Nem mais.

cat disse...

Depois do vergonhoso luto nacional após a morte da irmã Lúcia, tudo vale!

Anónimo disse...

Luto Nacional?....
Exemplos recentes.. e o Vasco Gonçalves (va de retro) que foi primeiro ministro? ... e Eugénio de Andrade um dos grandes poetas portugueses contemporâneos? ..tiveram direito a luto nacional?... brinca-se com as instituições ou tenta-se descredibilizá-las?

Agnelo Figueiredo disse...

Para a Cat
Antes de mais, seja bem vinda.
Depois:
Não aplaudi o luto nacional pela Irmã Lúcia. Estou, portante, à vontade. Contudo, é absolutamente ilegítima qualquer comparação entra uma e outro (Cunhal). Lúcia não fez nada de mal a Portugal. Assumiu, discretamente, em clausura até, a sua condição de vidente. Não tomou medidas, não escreveu livros, não fez doutrina, não fez discursos. Por outro lado, para uma significativa maioria de portugueses, Kúcia foi um símbolo, e mais do isso, um exemplo de Fé. Naturalmente, Lúcia não "conseguiu" a unanimidade, mas foi estimada pela esmagadora (para quê negá-lo) maioria. Para estes, Lúcia foi importante.
Daqui, a minha ideia de que o luto, embora não consensual, tenha sido compreensível. O "povo" gostava dela e ela não fez nenhum mal. Um pouco como Amália Rodrigues.
Quanto a Cunhal, a História nunca lhe perdoará.

Agnelo Figueiredo disse...

Para o Mocho:
Estou à espera do tal comunicado do PPD.

Agnelo Figueiredo disse...

Caro Tecelão,
Uma análise é sempre pessoal. É feita à luz de pressupostos que enformam o ideário de quem as produz. E, naturalmente, só vinculam quem as assina. É. por isso, perfeitamente natural que outros discordem. É natural que outrem, defendendo, por exemplo, a "ditadura do proletariado", ache que Cunhal teve um papel importante. Por mim, ainda que fosse marxista, continuaria a achar que Cunhal não desempenhou nenhum papel relevante. É que ele, até nisso fracassou.
Azurara

Anónimo disse...

Um dia, num funeral, o padre dizia do homem que jazia no féretro:
- Era um homem bom. Bom pai, bom marido.
A viúva que tinha passado as "passas do algarve" virou-se para o filho e disse:
- Filho vai ver quem é que está no caixão pq o padre não está, concerteza, a falar do teu pai.
Concordo com o princípio defendido pelo Azurara. Não podemos caír no lugar comum e na hipocrisia de achar que todos os mortos foram explêndidos em vida.

Agnelo Figueiredo disse...

Olá Carlos.
O meu amigo até responde por mim... Repare: "Concordo também que não se pode escamotear o que ele tentou introduzir em Portugal: um regime estalinista que iria, certamente, afundar Portugal." Está a ver?
Mas não foi só isso. Nacionalizações, ocupações selvagens, saneamentos, perseguições (COPCON), enfim. Tudo foi da responsabilidade e iniciativa do PCP, logo de Cunhal. Imagine, só, que não tínhamos passado pelo PREC. Imagine que tínhamos destruído o nosso sistema produtivo. Imagine que não tínhamos tido a necessidade de reconstruir o País. Imagine que não tínhamos destruído valores fundadores da democracia, como, por exemplo, o da autoridade (sisteáticamente e intencionalmente confundida com o autoritarismos). Imagine...
Agora abra os olhos e imagine o "espanto" de país que teríamos hoje.
Agora reconheça que tudo isto se deveu à acção do PCP, a qual o meu amigo reconhece na afirmação que ito no início.
Há uma coisa em que tenho que lhe dar razão: o meu "ataque" inicial ao camarada Vasco. Eu até já fiz o mea culpa num dos posts seguintes. De facto, Vasco foi apenas um "assalariado" de Cunhal.
Cumprimentos